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domingo, 23 de junho de 2013

Taça ou Sonho com o Poder

Uma das características da educação dos meus pais é cumprir o que prometem, sejam para agradar algum dos filhos ou mesmo o contrário. Quando criança bastava um olhar para dizer muitas coisas e essas palavras mais tarde se traduzia em ação. Implicitamente o que era prometido sempre fora cumprido, nunca falhava e por força maior poderia ser adiado, nunca esquecido.
A primeira decepção que tive com os adultos foi exatamente o tal do prometer e não cumprir, uma vez que estava habituado com a promessa cumprida o contrário me jogou em um mundo que não conhecia.
Antes da primeira série do primário, hoje ensino fundamental, existia o pré-primário, uma espécie de nivelamento dos alunos para que todos estivessem no mesmo nível no início do ano letivo. No final do pré-primário os professores faziam uma espécie de gincana, onde todos os alunos participavam de brincadeiras e os que ganhavam poderia escolher um brinquedo.
Formaram grupos e por algum motivo acabei ficando fora de todos, fiquei a vagar pelo pátio vendo as demais crianças brincando. Em uma dessas brincadeiras dividiram as crianças em dois grupos e deram uma corda para que cada grupo puxasse de cada lado, essa brincadeira é conhecia como “Cabo de Guerra”. Ao formar os grupos pedi a professora que organizava a brincadeira para poder participar, ela olhou para mim e disse que os grupos estavam formados e que na próxima rodada eu seria chamado. Fiquei esperando.
Os grupos se desfizeram e aguardando a promessa da professora fiquei.
Passado algum tempo desisti e esperar, saí andando desolado pelo pátio, uma tristeza abaixara sobre mim, o que era alegria, esperança deu lugar a decepção.
Algum tempo depois todos os alunos foram reunidos e levados à sala de aula. A alegria era geral, falavam alto, todos juntos. E os campeões puderam escolher o brinquedo de sua preferência.
Em meio ao alvoroço geral fiquei amuado, calado, com cara de enterro. A professora notou que não era mais o mesmo, que alguma coisa de errado se abatera sobre mim. Ela me chamou e perguntou se estava acontecendo alguma coisa, neguei. Houve insistência da parte dela, neguei novamente e Ela se abaixou e praticamente me colocou no colo e olhando fixamente em meus olhos disse para falar o que estava acontecendo. Comecei a chorar a pleno pulmões e dizer o que tinha acontecido que havia esperado a ser chamado para brincar e que fiquei esperando e não tinha sido chamado.
Com o inesperado a professora não sabia onde enfiar a cara ficou sem graça, me abraçou e tentou me consolar e terminar com meu choro convulsionado que cada vez ficara mais alto. Pediu para que tivesse calma, que havia esquecido e que não foi por mal que fizera aquilo e blá, blá, blá...
Para aliviar a dor que abatia sobre mim e presenteou com um carrinho de plástico, onde se acoplava uma bexiga que cheia dava propulsão para ele andar. Fiquei mais desencantado ainda, não queria o carrinho. Queria era brincar e ser campeão para poder dividir a alegria dos vencedores e poder escolher um brinquedo que fazia parte da maioria das minhas brincadeiras nesse período de pré-primário – a taça.
A taça era de material plástico resistente, cor creme e próximo à borda tinha desenhos de triângulos vermelhos.
Não era um brinquedo qualquer toda vez que brincava com ela me sentia com poder total, um rei, um homem rico, era a personificação do poder e dinheiro no meu imaginário. Somente pessoas ricas e poderosas bebiam em taças.
E por um esquecimento de uma professora fez com que perdesse a credibilidade nos adultos e destruísse meu sonho de poder e riqueza. Depois disso abateu sobre minha alma uma letargia que perdura até os dias atuais.

Essa história aconteceu por volta do ano de 1987, tantos anos depois, recordei com riqueza de detalhes ao ganhar da Gislaine Krausen da Paz uma taça em acrílico com o símbolo do time de futebol paulista Corinthians.
Depois de quase duas décadas e meia finalmente ganhei o que representava para mim o símbolo do poder, riqueza e saúde.
 Infelizmente não tenho mais idade para brincar de rei ou homem rico que bebe em taça, o estado de letargia conseguiu deixar suas marcas.
Depois de tantos anos terei uma taça que representa a profissão que abracei, o símbolo de Farmácia é uma taça com uma cobra enrolada, talvez estava pré-vendo o meu futuro e não sabia direito o que era.

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