Em 1991, aos 12 anos de idade me apaixonei perdidamente por uma colega de sala de aula, naquele momento o mundo parou e só tinha olhos para aquela menina magra, sorridente e de fartos cabelos lisos, chamada Karina da Silva Gonçalves.
Foi dessas paixões que deixam marcas profundas, mesmo não sendo correspondido, descobri outras paixões que guardo até o momento.
Na época tinha "orelhas de abano" que foram corrigidas quando estava servindo o Exército, quase uma década depois sem gastar um vintém. Esse defeito na época da escola não tirava meu sono, tanto que achava elas charmosas e só fiz a cirurgia plástica pela insistência de colegas de caserna.
Era alvo constante de sarro dos colegas de sala de aula e para não ficar por baixo mirava também nos defeitos alheios e retribuía as gentilezas recebidas. Com a Karina não era diferente, todos a chamavam de magricela, e o vento levou, graveto, etc. Como os demais, ela me chamava de dumbo, teco-teco, cabana, orelhão, entre outros apelidos. Coisa de moleques travessos que hoje todos conhecem como "bullying", que na época era somente sarro mesmo.
Nessa mesma época a Rede Globo de Televisão anunciou que iria reprisar o filme "...E o Vento Levou (Gone With the Wind - 1939)", e como esse era um dos seus apelidos malsã, resolvi assistir e caso não gostasse do filme nunca mais a chamaria assim.
Não conquistei a garota, mas o filme se tornou uma nova paixão e depois passei assistir todos filmes possíveis, de qualquer época e lugar. Um dia liguei a televisão e havia começado um filme em preto-branco, brasileiro, muito bem feito, outra paixão instantânea, era o filme "O Cangaceiro - 1953".
Daí em diante tudo que se relacionava a filmes passei ter interesse, música, livro, teatro, pintura, artistas e meu universo foi se alargando e com isso passei a compreender melhor a vida como um todo.
E nessa ânsia de eterna paixão busco conhecer cada vez mais, seja, através das artes ou do simples fato de observar pessoas comuns e seus dilemas.
A leitura passou ser uma constante em minha vida, principalmente as biografias, com a qual aprendia através das experiências alheias e entender os dilemas que muitas vezes afligia minha alma. Biografias de famosos e anônimos passaram ser um bálsamo e alguns desses livros pararam em minhas mãos sem eu mesmo escolher, simplesmente aconteceram de adquirir e começar a leitura.
Um desses livros foi o já citado em crônica "Campinas, São Gotardo e Muitas Histórias", de Carlos Lodi, agora estou lendo um livro que encontrei em uma dessas feiras de rua - Livros na Cidade (www.livrosnacidade.com.br), "A Riqueza da Vida - Memórias de um Banqueiro Boêmio", de Armando Conde, ao qual paguei uma bagatela e mesmo assim pensei duas vezes antes adquirir. Li a orelha do livro e não foi o suficiente para prender minha atenção, só comprei pelas fotos, em especial a foto que o biografado está ao lado do último presidente militar João Figueiredo, um personagem icônico da nossa história.
No trajeto de casa iniciei a leitura e já na primeira página fui fisgado pela maneira suave e jovial como está escrito o livro, desde então não consigo parar de ler.
A história moderna do Brasil sendo contada por um personagem sem pecha de historiador e já no primeiro parágrafo dá o tom do discurso que iremos encontrar em cada capítulo: a arte de conversar.
Estou lendo bem devagar, como se ouve um amigo que não se vê há muito tempo...