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sábado, 21 de janeiro de 2012

Um dia, um trago

São Paulo, Centro, sábado nublado, encontro-me num boteco sujo e mal cheiroso, sento e peço uma caipirinha. Recuso a bebida com vodka, prefiro à clássica, peço que a façam com cachaça.
Demoram a trazê-la, fixo meu olhar às flores de plástico que adornam o ambiente, as flores não me emocionam. Sua inflorescência em capítulo de um rosa inerte rouba toda minha atenção que só desvia para as folhas cobertas de poeiras.
Servido e mal servido trago cada gole a quem batizo de pior caipirinha que sorvi em minha vida, sendo pior até que o vinho São Thomé.
Entre uns goles e outros sinto garganta rasgada cada centímetro pela bebida que fora mal preparada, diferente de outras que já havia tomado, fazia jus ao ambiente, tão ruim o preparo como o ambiente.
Dois homens se abraçam, despedem-se e cada um segue o seu rumo, destinos opostos. Outro parado com expressão infeliz acende um cigarro, sinto o cheiro de cigarro barato a cada tragada a expressão de triste se transforma em careta, deveras além do cheiro o gosto não deve ser o mais palatável.
Duas e indecorosas “mulheres independente” entram rindo de um riso frouxo e alto, desvendando os dentes podres, a boca escancarada sai palavras obscenas de fala rápida e desconexa. Tudo nelas parece triunfar do dente estragado, das palavras “sujas”, do umbigo saltado adornado por um enfeite deixando o maior do que realmente é.
Uma gorda senta  à uma das mesas ensebadas e devorando um sanduíche como se tivesse “vindo da Etiópia”,mastigando rápido e de boca aberta, a gordura do lanche escorrendo entre seus dedos que não se dá ao trabalho de limpá-los.
O cheiro de cachorro molhado, o barulho do salão começa a me incomodar, levanto e saio como entrei sem sentir saudades e sem peso de consciência de estar num pé-sujo do Centro em companhia de um trago ruim em sábado nublado.


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