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domingo, 10 de julho de 2011

Encontro Inesperado II


Inicio dos anos 90, fazia um curso de eletrônica, no centro de São Paulo, na rua Florêncio de Abreu, próximo ao Mosteiro de São Bento. Sempre ao final do curso passava pela igreja e rezava, antes de voltar para casa.
Fazia o curso por imposição de meu pai, muitas vezes não chegava a ir para a sala de aula, ficava zanzando pelo centro, vendo fachadas de edifício, pessoas e o que tivesse para ser olhado.
Em cada volta pelo centro ficava encantado com tudo e todos, era o velho ao lado do novo, sujo e limpo, alegria e tristeza se encontrava na mesma calçada.
Diversas vezes fui assaltados pelos trombadinhas ali existentes e uma dessas vezes foi marcante, não pelo assalto em si, mas por tudo como ocorrerá.
Não recordo ao certo se era 1992 ou 1993, era um sábado, tipico paulistano, com céu cinza e nuvens carregadas, a garoa não parava, ficando naquele chove e não molha.
Como das outras vezes não fui ao curso, fiquei o tempo da aula na igreja de São Bento rezando e admirando sua arquitetura. Já próximo ao fim da aula aula saí pela rua Líbero Badaró até o Vale do Anhangabaú em sentido ao ponto de ônibus, para ir para minha casa.
Em pleno Vale dois trombadinhas mais alto e encorpados do que eu se aproximou de mim, um deles colocou o braço ao redor do meu pescoço e o outro passou o braço ao redor da minha cintura. Em tom de ameaça pediu meu dinheiro, apontei para o meu bolso, onde estava o vale-transporte, que eles de pronto retiraram e foram embora.
Fiquei atordoado, sai andando ao ermo, dando volta maior e desnecessária, sendo que só bastaria caminhar em linha reta para chegar ao ponto de ônibus. Dei uma volta maior, atravessei duas faixas da rua, esperando o semáforo abrir, onde hoje existe uma passarela, até chegar ao ponto de ônibus.
Ao chegar ao ponto de ônibus estava preocupado como iria voltar para casa, sem dinheiro e com muita vergonha de ter que pedir carona para o motorista ou ter que passar por debaixo da catraca. Além da vergonha que estava sentindo me atormentava a alma a falta que havia cometido, ao deixar de frequentar as aulas, preferindo ver edifícios, pessoas ou ir à igreja, tudo passava pela minha cabeça como um turbilhão, fazendo-me mais culpado ainda.
Não havia notado a presença de um rapaz próximo a mim, tamanho jogo de consciência estava a me tormentar. Só dei pela presença dele quando perguntou se eu havia sido assaltado, no que respondi afirmativamente e sem pensar disse que haviam roubado meu único vale-transporte.
Ele disse que havia visto tudo e abriu a carteira e pediu para que eu tirasse um bilhete, fiquei totalmente sem ação, então ele mesmo retirou um e colocou em minhas mãos.
Fiquei muito agradecido pela gentileza e confiança em abrir a carteira e deixá-la a minha disposição. Consegui agradecer tamanha gentileza, ele sorriu e foi se embora, pude notar que se vestia com calça jeans, camiseta e tênis e tinha os cabelos claros e compridos acima dos ombros.
Minha vontade na hora era perguntar lhe o nome, fiquei morrendo de vergonha de fazê-lo e só sei que foi uma alma boa que Deus enviou em meu auxilio num momento em que estava me sentindo só e abandonado, infelizmente nunca saberei o nome dessa pessoa especial. Graças a ele vi que existem pessoas boas ainda por aí.

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