Powered By Blogger

domingo, 18 de maio de 2014

SEM TEMPO E ESPAÇO...

Há muito tempo havia deixado a literatura de lado, me preocupando somente com livros técnicos. Perdi o interesse pela leitura, comecei a ler “Um Dia”, de David Nicholls e abandonei a leitura na metade do livro, perdi o interesse. Em parte pela adaptação cinematográfica que superou o próprio livro e pela falta de interesse próprio.
Depois disso enterrei de vez a leitura de romances passando a me dedicar somente a livros técnicos, revistas e jornais. Mas algo aconteceu depois que assisti ao filme “Onde a Terra Acaba (2002)”, de Sérgio Machado, apaixonei pelo personagem principal, o diretor do grande filme “Limite (1931)”, o mítico Mário Peixoto.
A primeira vez que assisti ao filme “Limite” tinha havia ficado impressionado com a imensidão e vazio existencial que o filme me provocara. As imagens, a música e algumas sequências que não havia entendido e até mesmo os fragmentos danificados tinha causado um sentimento de perda, abandono, entrega, um vazio existencial.
Ao assistir o documentário do Sérgio Machado pude conhecer melhor o diretor da obra-prima máxima do cinema brasileiro e me deparei com um personagem incrível, rico e com uma força inimaginável. Durante o filme tornei-me amigo, cúmplice do Mário Peixoto. O mesmo já havia ocorrido ao assisti o material extra do DVD “O Cangaceiro (1953)”, de Lima Barreto, onde em uma entrevista fiquei encantado. Dessa vez não só a admiração fez-me refém, algo inexplicável aconteceu como se fôssemos amigos de longa data, e depois de vários anos encontrasse-o ao virar a esquina.
Durante o filme pude experimentar novamente a sensação de ler “Macunaíma” de Mário de Andrade, sem tempo e espaço, livre como se a qualquer momento pudesse transpassar a barreira do imaginável e entrar no filme tal qual o filme do Woody Allen “A Rosa Púrpura do Cairo (1985)”.
Ao ver o filme fiquei curioso com um livro que o diretor lançara na década de trinta e que anos mais tarde reeditaria e lançaria. Pesquisando na seara da internet encontrei um exemplar numa Sebo no centro da cidade. Não resisti e no dia seguinte fui até a loja de livros antigos e adquiri o mesmo e não me fiz de rogado e comecei a lê-lo no mesmo instante.
Fiquei impressionado logo com o título “O Inútil de Cada Um – trecho de diário – O ruído persegue”, tal como o autor o livro é emblemático. A leitura é como o filme “Limite”, grandioso nas pequenas coisas, no que não se vê. É uma obra para sentir, cada descrição é única, infinita, solta no espaço, ao lê-las sinto escapar entre os meus dedos, fluído que se perde.
 Ao fim de cada capítulo tenho a sensação de estar novamente lendo o livro “Água Viva (1973)”, de Clarice Lispector ou assistindo ao filme “O Som ao Redor (2012)”, de Kléber Mendonça, algo intangível se apodera e perco minhas forças e impassível sou possuído pelo personagem e vivo cada lembrança como se a mim pertencesse.

A cada capítulo torno-me cúmplice do personagem, do autor, de todo o universo que rodeia ambos, onde tempo e espaço se funde e não sei mais dizer quem sou eu, qual vida me pertence e qual eu devo seguir, sonho e realidade é uma coisa só. E assim sinto-me amigo do diretor/ escritor Mário Peixoto. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário