Há muito tempo havia deixado a
literatura de lado, me preocupando somente com livros técnicos. Perdi o
interesse pela leitura, comecei a ler “Um Dia”, de David Nicholls e abandonei a
leitura na metade do livro, perdi o interesse. Em parte pela adaptação
cinematográfica que superou o próprio livro e pela falta de interesse próprio.
Depois disso enterrei de vez a
leitura de romances passando a me dedicar somente a livros técnicos, revistas e
jornais. Mas algo aconteceu depois que assisti ao filme “Onde a Terra Acaba (2002)”,
de Sérgio Machado, apaixonei pelo personagem principal, o diretor do grande
filme “Limite (1931)”, o mítico Mário Peixoto.
A primeira vez que assisti ao
filme “Limite” tinha havia ficado impressionado com a imensidão e vazio
existencial que o filme me provocara. As imagens, a música e algumas sequências
que não havia entendido e até mesmo os fragmentos danificados tinha causado um
sentimento de perda, abandono, entrega, um vazio existencial.
Ao assistir o documentário do
Sérgio Machado pude conhecer melhor o diretor da obra-prima máxima do cinema
brasileiro e me deparei com um personagem incrível, rico e com uma força inimaginável.
Durante o filme tornei-me amigo, cúmplice do Mário Peixoto. O mesmo já havia
ocorrido ao assisti o material extra do DVD “O Cangaceiro (1953)”, de Lima
Barreto, onde em uma entrevista fiquei encantado. Dessa vez não só a admiração
fez-me refém, algo inexplicável aconteceu como se fôssemos amigos de longa data,
e depois de vários anos encontrasse-o ao virar a esquina.
Durante o filme pude experimentar
novamente a sensação de ler “Macunaíma” de Mário de Andrade, sem tempo e
espaço, livre como se a qualquer momento pudesse transpassar a barreira do
imaginável e entrar no filme tal qual o filme do Woody Allen “A Rosa Púrpura do
Cairo (1985)”.
Ao ver o filme fiquei curioso com
um livro que o diretor lançara na década de trinta e que anos mais tarde
reeditaria e lançaria. Pesquisando na seara da internet encontrei um exemplar
numa Sebo no centro da cidade. Não resisti e no dia seguinte fui até a loja de
livros antigos e adquiri o mesmo e não me fiz de rogado e comecei a lê-lo no
mesmo instante.
Fiquei impressionado logo com o
título “O Inútil de Cada Um – trecho de diário – O ruído persegue”, tal como o
autor o livro é emblemático. A leitura é como o filme “Limite”, grandioso nas
pequenas coisas, no que não se vê. É uma obra para sentir, cada descrição é
única, infinita, solta no espaço, ao lê-las sinto escapar entre os meus dedos,
fluído que se perde.
Ao fim de cada capítulo tenho a sensação de
estar novamente lendo o livro “Água Viva (1973)”, de Clarice Lispector ou assistindo
ao filme “O Som ao Redor (2012)”, de Kléber Mendonça, algo intangível se
apodera e perco minhas forças e impassível sou possuído pelo personagem e vivo
cada lembrança como se a mim pertencesse.
A cada capítulo torno-me cúmplice
do personagem, do autor, de todo o universo que rodeia ambos, onde tempo e
espaço se funde e não sei mais dizer quem sou eu, qual vida me pertence e qual eu
devo seguir, sonho e realidade é uma coisa só. E assim sinto-me amigo do diretor/
escritor Mário Peixoto.
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