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quarta-feira, 30 de junho de 2010

ETERNAMENTE DESGRAÇADOS E SUPERIORES


O tempo passa tão de pressa, e quando percebemos muitas coisas aconteceram, e outras tantas deixaram de acontecer.
Antes de completar três longas décadas, tinha uma visão de mundo mais romântica, vivendo num mundo perfeito, onde todos eram bons e por necessidades eram levados a cometerem atos que dessoram e desqualifica os seres humanos.
Ao completar três décadas de vivencia fui assaltado pelo lado realista, pra não dizer pessimista, da vida. Descortinou uma verdade que há muito estava escondendo de mim mesmo, tudo se transformava, o sangue agora era vermelho escarlate. Não tive uma visão premonitória do presente e muito menos do futuro. Algo dentro de mim se partiu, agora cada rosto que vejo na rua traz angustia e medo, as pessoas estão doentes, confinadas dentro de si.
Cada sorriso é uma praga, uma escara, um vomito preso à ser expelido a qualquer momento.
Vejo sim, em cada uma dessas pessoas a vontade de matar o próximo ao lado, de roubar-lhes tudo que tem, de esquartejar as vísceras e deixá-las espalhadas no asfalto quente.
Pululam inveja, mesquinharia, pobreza da almas dessas pessoas.
O quadro geral de todo não é ruim, ainda existem os que fazem bem, apesar de estarem infestados de orgulho e vaidade até a têmpora, disfarçando para não pareceram superiores aos desgraçados.
Muitos desses desgraçados não são tão desgraçados assim, são de outra maneira, não da forma como todos os olhamos, como seres inferiores, precisando de cuidados.
A cada ida ao Centro Velho, vejo e meus olhos não me engana, gentinha se aproveitando da vaidade dos benfeitores da caridade e sendo um desgraçado pela preguiça e comodismo.
Homens fortes, mulheres sadias, tanto que muitas delas tem várias crias, ao invés de trabalhar ficam esmolando e sendo sustentados pelos transeuntes que se sentem bons e intimamente superiores aos bandos de desgraçados por profissão. Trabalhar que é bom poucos o fazem, preferem beber cachaça e a noite ganhar sopa e pão dos 'escolhidos por Deus'.
Na verdade o que ficou evidente foi o orgulho, vaidade, preguiça, inveja, todos velhos conhecidos do tempo de catecismo, levei tanto tempo para ver a realidade, pois me blindei dentro de mim, por orgulho do mundo perfeito que ganhei dos meus pais, sendo intimamente superior aos demais por não querer ver e compartilhar o mundo dos desgraçados.
Sigo em frente ciente do meu orgulho e da minha superioridade diante dos desgraçados de plantão e dos benfeitores que disputam interna e externamente para ser superiores em sua bondade de filhos escolhidos por Deus.
Somos iguais em desgraça e viveremos eternamente felizes por sermos superiores, intimamente, superiores uns aos outros.

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