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Escrever
sobre pessoas do convívio é sempre um veneno, acaba por despertar
diversos sentimentos, bons, ruins e até despeito e ciúmes.
O texto é
devidamente analisado para ver se algo escrito nas entrelinhas possa
denunciar maledicência ou coisa do gênero.
O objeto
da atenção é sempre uma faca de dois gumes, todo cuidado é pouco
e deveras escrever sobre algumas pessoas é alerta vermelho, algumas
pessoas não me arriscaria ou faria de forma a evitar os pormenores.
Conversando
com minha irmã caçula citei-a como uma dessas personagens que não
me sentiria à vontade em escrever, talvez porque iria contar as
peripécias que aprontei e de certo ela iria ler, melhor deixar para
lá.
Depois
que falei com minha irmã fiquei pensando em outra irmã que seria
praticamente impossível escrever a respeito, e no frigir dos ovos
acabei vendo que não é impossível, em se tratando da minha irmã
mais velha nada é impossível.
Quando
lembro dela vem sempre a mente a primeira infância, do tempo que
praticamente éramos três e ela mandava e desmandava nos mais novos.
Mesmo tendo nascido mais dois, ainda assim minha referência de
irmandade era as duas mais velhas, os outros eram pequenos e de nada
representava para mim.
Por volta
dessa época uma estrela mirim despontava na televisão – a Simony,
no programa infantil Balão Mágico e por algum motivo achava-a
parecida com minha irmã e acreditava que era uma moça, as duas eram
idênticas.
Sendo o
mais novo dos três invariavelmente levava a pior, saia perdendo em
força, agilidade e inteligência e era sempre a vítima das duas, e
por teimosia fazia de tudo para acompanhá-las nas brincadeiras.
Criança
de modo geral tem por base a competição, um dois, três anos de
idade é uma vantagem astronômica e isso minhas irmãs tinham
vantagem. Por serem mais velhas sabiam mais e a hierarquia se
estabelecia naturalmente e para tirar a diferença tinha que usar
todas as armas possíveis, a principal é o “vencer pelo cansaço”
e isso fazia muito bem, repetia tão bem 'me dá, eu quero' que por
fim acabavam cedendo, seja por bem ou mal, só que antes relutavam
enquanto podia repetindo 'não dô, ti dá, não dô' e isso causava
um celeuma e minha mãe irritada mandava dar logo para acabar com a
história de uma vez. E assim vencia minhas irmãs que eram um
verdadeiro colosso de dificuldade. Outras vezes saia perdendo para as
duas, a Silvana tinha por hábito me colocar em maus lençóis, e a
Cristiane me fazia de idiota com suas eternas estórias mirabolantes.
Numa
dessas peças da minha irmã mais velha, fez com que eu agarrasse a perna de um
homem que vestia uniforme igual ao meu pai ou as intrigas que fazia
entre minha irmã e eu para nos ver brigando como galos de brigas e
com isso se acabar de rir dos idiotas que ela conseguia manipular.
Geralmente
quando lembro da minha irmã mais velha vem sempre a mente a primeira
infância, sua maneira destemida e impetuosa de ser, não tendo
limites, já a conheci assim e creio que será assim para sempre.
Algumas
vezes já me acusaram de tê-la como a irmã preferida, coisa que
acredito não ser verdade de todo.
Cada um
tem suas características e por incrível que parece ela tem todas, é
notório como ela sendo uma única pessoa consegue ser várias ao
mesmo tempo e por fim sendo ela mesma.
Falar,
escrever ou pensar na Silvana se torna uma armadilha, como a própria
também acabamos por precipitar o julgamento e incorremos em erros
banais. Defini-la em poucas palavras não é tarefa fácil, assim é
ela...
Felizmente
aprendi muito mais nessa fase da minha vida com essas duas
criaturinhas , que me ensinaram a persistir, a ser chato quando
necessário, a respeitar liderança feminina como algo natural.
Assim são
elas, minha primeira infância, e assim já nasceram moças, não as
conheci de outra maneira.