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domingo, 2 de dezembro de 2012

Guita, Irmãzinha Querida



Dias desses estava no metrô, linha verde, e notei próximo a mim um velhote com uma mulher e uma menina rotunda, achei a cena hilariante, a protuberância do abdome do homem era esplendoroso, imenso para ser mais preciso e nas mãos trazia um pacote contendo um lanche desses fast-food e parecia estar feliz da vida, provavelmente a pança estava cheia da mesma iguaria.
Ao mesmo tempo que via a família com sobrepeso e feliz recordei de outro medo de infância, a música “Nego Véio Quando Morre”, cantada pelos Os Originais do Samba e que uma das minhas irmãs, Cristiane - a Guita, insistia em causar o mais terrível medo da minha vida. Ela infernalmente começava a cantar para infernizar minha vida de criança e não adiantava suplicas, reclamações, choro, com tudo isso ficava pior. Quando minha irmã cantava a música que fazia parte de uma das novelas da Rede Globo de Televisão eu ficava a imaginar cada parte da letra, as velhas, o nego, o velho barrigudo, o caixão, tudo, tudo era um terror para minha infância.

Olho do japonês morto 

Certa vez acompanhando minha mãe que fora levar minha queridas irmãs mais velhas ao colégio havia uma casa desabitada que pela janela de um dos cômodos dava para ver uma pia de louças e uma mancha vermelha em cima e na parede. Minhas irmãs e suas coleguinhas conseguiram autorização dos respectivos pais (mães) para entrar e ver o que era e eu muito curioso não foi me dado essa oportunidade, fiquei morrendo de curiosidade. Quando a mesma irmãzinha que anos antes me aterrorizava com a tal música saiu perguntei que mancha era aquela e ela sarcasticamente falou que era sangue de um japonês morto e que lá dentro ela viu o olho do tal japonês. Isso foi o suficiente para acabar com a minha paz e ter pesadelos terríveis com olhos de japonês mortos e sangrando e até hoje essa história e relembrada em casa.
E para matar a saudade do terror infantil que minha adorável irmãzinha mais velha me impingia na minha mais tenra infância aí está a letra do meu terror auditivo:

“Quando eu morrer quero ir de fralda de camisa
Quando eu morrer quero ir de fralda de camisa
Defunto pobre de luxo não precisa
Defunto pobre de luxo não precisa
Cinquenta velhas desdentadas e carecas
Cinquenta velhas desdentadas e carecas
Hão de ir à frente tocando rabeca
Hão de ir à frente tocando rabeca
E um velho bem barrigudo
E um velho bem barrigudo
Ir lá na frente tocando no canudo
Ir lá na frente tocando no canudo
Quatro velhas que forem de balão
Quatro velhas que forem de balão
Irão segurando nas argolas do caixão
Irão segurando nas argolas do caixão”


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