In memoriam Mário Peixoto
Poucos são os livros que me faz lê-los aos poucos, cada capítulo como se fosse um novo livro, não pela falta de continuidade, mas pelo ato do prazer de sorver cada palavras e sensações provocadas pela maestria dos seus autores. Um desses poucos livros é "O Inútil de Cada Um - Itamar", de Mário Peixoto.
A cada capítulo crio novos capítulos internos e revivo outras vidas, de um tempo em que era vivo e tinha sonhos. Em especial no capítulo 11 "O Ruido persegue - Íncubo", logo na abertura tenho um choque ao ler 'O único prolongamento que continua os seres - e se assim mesmo a isto podemos chamar - é outro ser!
Com essa introdução fez-me voltar no tempo e sentir uma tristeza por não mais poder sonhar com a imortalidade, mesmo o sangue ainda pulsando na veia, onde a matriz da vida não pode processar mais vidas, somente morte e destruição.
Gerações se encerra num sonho que findou sem a insofismável seiva da vida, sem carne, sem nome, que ao apoiar em meu ombro ombro nenhum, sinto o peso em meus que nunca há de cessar enquanto a campa não fizer repousar.
Instantes latentes volta a assaltar em perfume, flashes, reminiscências toscas de um passado que ainda vive tal como no capítulo sem nexo do presente e do passado.
Trago no peito lembranças do passado, os segredos que sei de cor tão sepultado junto aos cacos de um sonho que não se concretizou.
Nada disso me entristece, aceito, ou melhor não luto contra o luto que assolou minha alma. Parece lúgubre tal capítulo, não o é - creiam me, pelo contrário, emana vida, vida de outrora, sonhos insepultos que nos faz reviver a vida enquanto havia vida.
Leio cada palavra, conexão do instantâneo que preenche o tempo contendo o futuro, com salutar e verídica amargor de apenas o ser.