Almoçar fora é sempre um bom programa principalmente se for a dois, bons restaurantes pela cidade é coisa comum na cidade da gastronomia que São Paulo se transformou, infelizmente não conheço muitos templos dedicados ao bom alimento. Já estive em algumas cantinas, bares e restaurantes sempre acompanhado, geralmente sendo apresentado a esses estabelecimentos e juro que fiquei maravilhado diferente do que dizem que a comida é pouca e que quando saímos vamos comer de verdade em casa. Pode ser verdade para algum glutão que não pode ver comida ou talvez algum foragido da Etiópia que não se alimenta há tempos.
Muitas vezes me contentaria só com o prato de entrada ou de salada dispensando o principal e a sobremesa, coisa que jamais ousei fazer.
Ir a lugares por si só representa um dia especial que infelizmente não podendo me dar ao luxo de ir como gostaria e em compensação todos os dias faço minhas alimentações em um restaurante por quilo que considero bom, limpo, organizado e com certa variedade.
Quando estou com pouco dinheiro até este estabelecimento fica fora de cogitação e apelo para um bar com mais jeito de boteco, o Bar e Café Cabral.
Bar e Café Cabral como o próprio nome pode sugerir é um bar e seu dono é um português, não qualquer português, mas um português típico com sotaque e tudo que acompanha um bom lusitano da barriga ao sotaque, do jeito paternal ao jeito ríspido, nada lhe faltam, a camisa aberta até a metade do peito aos cordões e pulseiras, só que pensando nele enquanto escrevo não consigo “recordare” se o “portuga” estar a “usare” bigode.
O que diferencia este estabelecimento dos demais não é um ótimo serviço e nem um funcionário que poderia descrever como sendo o melhor, é o conjunto da obra, tudo no bar do Cabral é único, pode ter muitos outros iguais, mas lá a coisa se torna mais agradável e aceita por todos.
O espaço é pequeno e para passar pelo corredor acaba-se processando nas mesas e o espaço é bem concorrido, mal saí um da mesa e já é devidamente ocupado por outro, dividindo a mesa com desconhecidos e assim por diante. O barulho é constante, cliente, garçons, tilintar de talheres tudo ao mesmo tempo e o serviço acaba sendo feito rápido.
Nesse pequeno ambiente uma gama de garçons nos serve constantemente, todos correm de um lado para outro fazendo mais de uma coisa por vez e talvez por ser um costume português não há uma “garçona” para servir as mesas.
Os garçons é um número à parte, cada um com sua característica própria, há o estressado, o desligado, o agitado, o prestativo e todos acabam se completando. O mais querido do público é sem dúvida o Zé, seu nome é constantemente chamado e parece ser ele o responsável pelos pedidos junto a cozinha, que pude notar não há uma mulher lá somente homens, que deve ser outra característica portuguesa de dar preferência pela mão de obra masculina.
Almoçar no balcão é um lugar não muito agradável só que tem suas vantagens, a visão de todo estabelecimento é boa e conseguimos ver muito mais além do que a movimentação geral, entre uma coisa e outra que me chamou atenção foi um dos garçons pegar um prato e assoprar por qualquer motivo ou o próprio “portuga” após receber o pagamento de um cliente pegar um copo e colocar gelo e um pedaço de laranja sem lavar as mãos antes e entregar para uns dos garçons que apressadamente levou para um cliente sem antes atender outro pelo caminho e atendendo vários outros no retorno de novos pedidos.
Pode parecer horrível o que escrevi a cima, só que todos que freqüentam o estabelecimento está acostumado com o jeito do lugar e parece não se importar com nada que acontece ao seu redor e por falar nisso o próprio bar é de um despojamento gracioso, vê se caixas de refrigerantes vazios do lado de fora onde também tem mesas no perímetro permitido pela prefeitura e cestinhas de pães e vidros de mel como tira-gosto e no final da refeição o cafezinho saí por conta ou um chiclete ao pagar a conta.
Dias após dias a clientela não arreda o pé, o ambiente familiar e os clientes cumprimentam os garçons pelo nome, Alemão, Zé...